30 de maio de 2011

Homenagem: Abdias do Nascimento

Abdias se vai deixando um Brasil melhor...

Os Estados Unidos tiveram Malcolm X e nosso Martin Luther King Jr., o Congo teve Patrice Lumumba, a África do Sul teve Steve Biko e ainda tem Nelson Mandela, a Jamaica e os EUA tiveram Marcus Garvey, o Senegal teve Leopold Senghor, a Martinica teve Aimé Cesairé, a Guiana Francesa teve Léon Damas, Gana teve Kwane Nkrumah e o Brasil teve Abdias do Nascimento.

Abdias nos deixou nessa manhã para entrar no seleto grupo de líderes negros que, por meio de suas ações, fizeram do mundo um lugar melhor. Aos 97 anos, nosso guerreiro se vai já cansado de tantas guerras, mas com a certeza de dever cumprido. Afinal, tudo aquilo que se refere a luta política contemporânea do/as negro/as brasileiro/as teve a participação desse pequeno grande homem. Seja na distante Frente Negra Brasileira (FNB) dos anos 1930, no Teatro Experimental do Negro (TEN) nos anos 1940, no jornal Quilombo entre final dos 1940 e início dos 1950, nos congressos, seminários, debates e plenárias (foram tantos e em lugares tão diversos), na luta por ações afirmativas da qual ele já esbravejava nos anos 1950, no exílio nos EUA na década de 1970, no Movimento Negro Unificado (MNU) dos final dos anos 1970 e início dos 1980, no mandato de Senador dos anos 1990, nos escritos de dramaturgia, nas pinturas, nos textos políticos, nas mulheres que amou, nos filhos e filhas que elas lhe deram e ele amou... Em todos essas ocasiões, lá estava o negro Abdias com sua revolta, seu amor, sua sabedoria, seu humor, sua indignação, seu charme, suas contradições e seu comprometimento. Abdias foi um visionário e guerreiro incansável das causas que afetavam negros e brancos num país que, na maioria das vezes, tem vergonha de assumir sua herança africana, quer embranquecer, não quer ter nariz chato, beiço, cabelo crespo e pele escura.

Nosso guerreiro se vai, mas o Brasil está melhor por conta de suas ações, de sua audácia e da sua revolta. Para mim, Abdias sempre será um negro revoltado, pois sua revolta foi criadora, gerou frutos que hoje todos nós colhemos: igualdade, orgulho, auto-estima, risos, amor e o prazer de viver cada vez entre iguais respeitando suas diferenças de cor, raça, gênero, etnia, religiosidade, orientação sexual e classe. Nessa convivência entre diferentes e iguais aprendemos mais, nos doamos, discordamos e muitas vezes nos revoltamos para criar e aperfeiçoar. Pois a revolta, como Abdias mostrou através da sua vida, é criadora. Obrigado por tudo, meu guerreiro!

Márcio Macedo (Kibe)

Ph.D. student at New School for Social Research

IFP Fellow

publicado dia 24 de maio em: http://newyorkibe.blogspot.com/

Numas recomenda: Evento

Numas Recomenda: Livro

Escritor argentino fala sobre sexualidade de recifenses em livro reeditado

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FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO
Há 50 anos, ao deixar a mulher em Buenos Aires e aceitar o convite do teatrólogo Hermilo Borba Filho para dar aulas de teatro no Recife, Tulio Carella iniciava uma jornada que o conduziria ao prazer selvagem, à tortura e, por fim, à ruína.
Teatrólogo, poeta, tradutor e ensaísta argentino, Carella (1912-1979) era, naquele 1960, um intelectual respeitado em seu país.
Foi indicado a Hermilo (1917-1976) pelo italiano radicado em São Paulo Alberto d'Aversa (1920-1969), a quem fora feito o convite original.
No Brasil, lhe atraíam "a brasa que arde como um fogo maravilhoso e perdurável", o "duplo aspecto destruidor e purificador que dá luz e sombra, ilumina e barra o caminho ao mesmo tempo".
Achava que o país deveria se chamar "Estados Unidos do Fogo".

Divulgação
O escritor e teatrólogo argentino Tulio Carella, que viveu no Recife no início dos anos 60
O escritor e teatrólogo argentino Tulio Carella, que viveu no Recife no início dos anos 60
No Recife, encantou-se com os negros ("A cor escura dos nordestinos me atrai como um abismo") e, guiado pela solidão nos grandes intervalos da atividade acadêmica, entregou-se à libertinagem sexual, principalmente homossexual.
Vagava pelo centro em encontros e bolinações com homens rudes, operários de pouca instrução. Registrou tudo, com crueza de detalhes íntimos, em seus diários.
Numa época em que crescia o desconforto dos militares com o momento político (Jango assumiria o governo em 1961), num bastião esquerdista (berço das Ligas Camponesas de Francisco Julião), a movimentação sorrateira de Carella foi tomada por subversão política.
Supondo que ele era o elo entre as Ligas e Cuba, os militares o prenderam e torturaram. Ao acharem os diários, descobriram que tudo não passava de orgia.
Despacharam-no de volta para Buenos Aires, não sem antes ameaçar divulgar os diários, caso ele denunciasse o que sofrera.
Em 1968, Borba Filho convenceu Carella a publicar os diários no Brasil, numa coleção erótica criada pelo teatrólogo pernambucano na José Alvaro Editor.
"Orgia", o livro, que passou anos esgotado, tornou-se um cult da literatura gay e raridade até mesmo em sebos. Ganha agora reedição pela Opera Prima Editorial.
É TUDO VERDADE
Quando voltou à Argentina, Carella trabalhou ficcionalmente os diários e fez um "roman à clef", história real contada como ficção.
O livro alterna narração em terceira pessoa com relato de diário tradicional, em primeira pessoa.
Responsável pelo novo volume, o jornalista e editor Alvaro Machado assina as notas e uma introdução que situa historicamente a obra e seu autor. Ele viajou a Buenos Aires e ao Recife e revisou lapsos de digitação, pontuação e montagem tipográfica da edição de 1968.
Machado conheceu "Orgia" por meio de "Devassos no Paraíso" (Record, esgotado), de João Silvério Trevisan, estudo sobre a homossexualidade no Brasil e maior responsável por difundir Carella e sua obra depois de esgotada a edição original.
Autor e livro viraram ícones da militância gay --Carella foi listado pelo Grupo Gay da Bahia como um dos "cem desviantes sexuais mais célebres na história do Brasil".
Em "Devassos", Trevisan transcrevia o trecho em que o autor faz sexo com um halterofilista sarará chamado King-Kong (leia ao lado), depois reproduzida em outras obras fora do Brasil.
"Do que eu conheço de literatura e de arte homoerótica, 'Orgia' é uma das coisas mais emblemáticas e contundentes, inclusive pela qualidade literária", diz Trevisan.
O escritor classificou de "muito estranho" não ter sido consultado por Machado para a reedição. "Porque, na verdade, eu que revelei Tulio Carella para o Brasil e os argentinos. Talvez houvesse uma competição embutida."
O sociólogo e professor da Unicamp Laymert Garcia dos Santos destaca o caráter socioantropológico de "Orgia", lembrando que, ao longo da obra, Carella repete uma pergunta: "Que é um negro?".
"O livro traz uma visão diferente: qual é o modo de ser do negro na intimidade absoluta. O que interessa é o ponto de vista ontológico --o modo de ser negro-- e o ponto de vida epistemológico _como posso conhecer o modo de ser negro, mergulhando fundo na sexualidade deles."
ORGIA
AUTOR Tulio Carella
TRADUÇÃO Hermilo Borba Filho
EDITORA Opera Prima
QUANTO R$ 64 (312 págs.)

26 de maio de 2011

Numas recomenda: Evento

II ENADIR – Encontro de Antropologia do Direito

31 de agosto, 1º e 2 de setembro de 2011 (4ªf, 5ªf e 6ªf)
FFLCH – USP (Conjunto Didático das Ciências Sociais e Filosofia)

Consultem a programação no site abaixo:

25 de maio de 2011

Artigo sobre Lilia Moritz Schwarcz

Tema racial inspira nova biografia

Lilia Moritz Schwarcz investiga a influência da origem e da situação social do ficcionista no corpo de sua produção

14 de maio de 2011 | 0h 00
Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo

A biografia de Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) considerada definitiva é a do paulista Francisco de Assis Barbosa. Publicada em 1952 e ainda no catálogo da editora José Olympio, A Vida de Lima Barreto é fruto de cinco anos de pesquisas, período em que Barbosa manuseou originais, notas, trechos esparsos do Diário Íntimo, cartas, cadernos de recortes de jornal - documentos hoje incorporados na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. "Mas ele, explícita e declaradamente, afirmou que não trataria do tema racial na obra de Barreto. Na minha opinião, essa é uma questão fundamental para o autor, cuja vida foi marcada pela construção de alguns detalhes sociais da diferença, devidamente manipulados: raça, situação social, e localização", afirma a antropóloga e pesquisadora Lilia Moritz Schwarcz, que viu ali um caminho fecundo para aprofundar novos estudos sobre o autor, cujos 130 anos de nascimento foram lembrados ontem.


Desde o ano passado, portanto, Lilia pesquisa a documentação da Biblioteca Nacional a fim de preparar a sua biografia, que ainda não tem data de publicação - e trará a questão racial como um dos seus fios condutores. "Lima sempre se definiu como pobre, mulato, um morador do subúrbio e fez de sua literatura uma expressão desta condição. E, ao tratar de seu hábitat, pude o ampliar o espaço simbólico do Rio incluindo o subúrbio", comenta Lilia, que visitou o local onde viveu o escritor e constatou que muitas características continuam intactas, como se o tempo tivesse congelado. "Ainda há galinhas e cachorros soltos nas ruas, além de pessoas jogando bola."

Lima Barreto sempre realizou uma literatura de testemunho e o tema da raça está presente todo tempo. Lilia observa que há um momento em seu Diário Íntimo em que ele diz: "É difícil não nascer branco". E ainda "a raça para os brancos é conceito, para os negros pré-conceito". "Se tomarmos Recordações do Escrivão Isaías Caminha, romance autobiográfico, o personagem principal conhece o preconceito ao chegar no Rio, quando é acusado injustamente, ou quando deixa de ser servido num bar por conta de sua cor. O mesmo ocorre em Clara dos Anjos: mulata, pobre e prostituída. Também em Cemitério dos Vivos, romance incompleto pautado na experiência no sanatório, e no Diário do Hospício, Lima recheia a narrativa com episódios de preconceito e de sofrimento pessoal."

Aos poucos, Lilia foi detalhando a contraditória personalidade de Lima Barreto. "Seu comportamento era sempre ambivalente", observa a pesquisadora. "Condenava o determinismo racial mas temia morrer louco (assim como seu pai); era uma voz do subúrbio, mas tinha estima pelas instituições da capital; condenava a literatura acadêmica que considerava por demais oficial, mas tentou entrar na instituição por três vezes; era favorável às afirmações culturais negras, mas condenava o samba, o carnaval. Enfim, ele era muito Policarpo Quaresma; uma espécie de D. Quixote tropical."

Ao mesmo tempo, sua determinação em se firmar como escritor era constante - segundo Lilia, Lima fazia questão de se apresentar como tal, ainda que trabalhasse como amanuense (ou seja, um copiador de documentos) no Ministério da Guerra, do qual era funcionário público. Ele, porém, parecia desprezar a função pois, como observou Lilia em sua pesquisa, preferia ocupar o tempo fazendo anotações sobre sua obra no verso da documentação. Uma espécie de desabafo de geração. "É possível notar como ele usava seu tempo livre para escrever, e que não tinha qualquer apreço pela profissão. Por isso mesmo, era à literatura que se dedicava. Tanto que em seu diário confessou: "A literatura, ou me mata ou me salva"."

Basta observar, por exemplo, um trecho das anotações que deixou no verso do manuscrito de Policarpo Quaresma: "Era bom saber se a alegria que trouxe à cidade a lei da abolição, foi geral pelo país. Havia de ser, porque já tinha entrado na convivência de todos a sua injustiça originária. Quando eu fui para o colégio, um colégio público, à rua do Rezende, a alegria entre a criançada era grande. Nós não sabíamos o alcance da lei, mas a alegria ambiente nos tinha tomado. A professora, D. Tereza Pimentel do Amaral, uma senhora muito inteligente, creio que nos explicou a significação da coisa; mas com aquele feitio mental de crianças, só uma coisa me ficou: livre! livre! Julgava que podíamos fazer tudo que quiséssemos; que dali em diante não havia mais limitação aos progressistas da nossa fantasia. Mas como estamos ainda longe disso! Como ainda nos enleiamos nas teias dos preceitos, das regras e das leis!"

Lilia não acredita, portanto, que seja coincidência o fato de que, nas costas de seu romance mais importante - e evidentemente autobiográfico - ele desenvolva tal tipo de raciocínio e mostre como esse era um momento de desencanto: nostálgico. "Aí estava, como ele mesmo dizia, "a República que não foi"."

Em dois artigos que serão divulgados em publicações especializadas, a pesquisadora detalha a passagem do escritor pelo Hospício Nacional de Alienados, iniciada em 1914. A partir de análise dos prontuários arquivados na biblioteca do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, Lilia observa que, apesar de escritor de certa fama, reconhecido como voz crítica e atuante, Barreto é registrado como um alienado sujeito ao delírio do álcool. "Tudo ao contrário do que era seu grande sonho: o de projetar-se como uma persona literária e um testemunho desses novos tempos."

Fotos: Numas em Maio


Marcio Zamboni, Rebeca Campos Ferreira, Bruno Barbosa, Regina Facchini e Heloisa Buarque de Almeida.


Rebeca Campos Ferreira, Bruno Barbosa, Marcio Zamboni, Regina Facchini e Heloisa Buarque de Almeida.

Fotos: Michele Escoura.

23 de maio de 2011

Numas recomenda: Evento

II Seminário Imagens da Cultura/Cultura das Imagens










Realiza-se de 15 a 18 de Agosto de 2011, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o VII Seminário Imagens da Cultura / Cultura das imagens. Seminário organizado pela RED_ ICCI que é atualmente constituída pelos seguintes grupos de investigação: CEMRI – Laboratório de Antropologia Visual, Universidade Aberta; Grupo de Investigação em Comunicação Corporativa e Sociedade da Informação – Área de Estudos Culturais, Universidade de Múrcia; Grupo de Investigación en Tecnología, Arte y Comunicación, Universidad de Sevilha; Grupo Design, Arte, Linguagens e processos e do Grupo Linguagem e Arte Linguagens Contemporâneas, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo; Pôle lmage & Information – IREGE, Universidade de Savoie; Grupo Internacional de Análisis Cinematográfico y Televisivo, Universidade Complutense de Madrid; GEOBINDEL - Grupo de Investigación de Desarrollo Local y Geografia Económica, Universidad de Alicante; VISURB - Grupo de Pesquisas Visuais e Urbanas, Universidade Federal de São Paulo; Grupo de Investigação em Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento, Departamento de Ciências da Educação e do Patrimônio, Universidade Portucalense.


O VII Seminário Internacional Imagens da Cultura / Cultura das Imagens centra-se em 3 eixos:

· Eixo interdisciplinar – antropologia, arte e comunicação

· Eixo do projeto – Interculturalidade, transnacionalismo, identidade

· Eixo do âmbito da Rede e do Seminário - Cooperação acadêmica e científica entre a Europa, América Latina, África.

Mais informações:


16 de maio de 2011

Tema racial inspira nova biografia

Lilia Moritz Schwarcz investiga a influência da origem e da situação social do ficcionista no corpo de sua produção

14 de maio de 2011 | 0h 00
Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo

A biografia de Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) considerada definitiva é a do paulista Francisco de Assis Barbosa. Publicada em 1952 e ainda no catálogo da editora José Olympio, A Vida de Lima Barreto é fruto de cinco anos de pesquisas, período em que Barbosa manuseou originais, notas, trechos esparsos do Diário Íntimo, cartas, cadernos de recortes de jornal - documentos hoje incorporados na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. "Mas ele, explícita e declaradamente, afirmou que não trataria do tema racial na obra de Barreto. Na minha opinião, essa é uma questão fundamental para o autor, cuja vida foi marcada pela construção de alguns detalhes sociais da diferença, devidamente manipulados: raça, situação social, e localização", afirma a antropóloga e pesquisadora Lilia Moritz Schwarcz, que viu ali um caminho fecundo para aprofundar novos estudos sobre o autor, cujos 130 anos de nascimento foram lembrados ontem.


Desde o ano passado, portanto, Lilia pesquisa a documentação da Biblioteca Nacional a fim de preparar a sua biografia, que ainda não tem data de publicação - e trará a questão racial como um dos seus fios condutores. "Lima sempre se definiu como pobre, mulato, um morador do subúrbio e fez de sua literatura uma expressão desta condição. E, ao tratar de seu hábitat, pude o ampliar o espaço simbólico do Rio incluindo o subúrbio", comenta Lilia, que visitou o local onde viveu o escritor e constatou que muitas características continuam intactas, como se o tempo tivesse congelado. "Ainda há galinhas e cachorros soltos nas ruas, além de pessoas jogando bola."

Lima Barreto sempre realizou uma literatura de testemunho e o tema da raça está presente todo tempo. Lilia observa que há um momento em seu Diário Íntimo em que ele diz: "É difícil não nascer branco". E ainda "a raça para os brancos é conceito, para os negros pré-conceito". "Se tomarmos Recordações do Escrivão Isaías Caminha, romance autobiográfico, o personagem principal conhece o preconceito ao chegar no Rio, quando é acusado injustamente, ou quando deixa de ser servido num bar por conta de sua cor. O mesmo ocorre em Clara dos Anjos: mulata, pobre e prostituída. Também em Cemitério dos Vivos, romance incompleto pautado na experiência no sanatório, e no Diário do Hospício, Lima recheia a narrativa com episódios de preconceito e de sofrimento pessoal."

Aos poucos, Lilia foi detalhando a contraditória personalidade de Lima Barreto. "Seu comportamento era sempre ambivalente", observa a pesquisadora. "Condenava o determinismo racial mas temia morrer louco (assim como seu pai); era uma voz do subúrbio, mas tinha estima pelas instituições da capital; condenava a literatura acadêmica que considerava por demais oficial, mas tentou entrar na instituição por três vezes; era favorável às afirmações culturais negras, mas condenava o samba, o carnaval. Enfim, ele era muito Policarpo Quaresma; uma espécie de D. Quixote tropical."

Ao mesmo tempo, sua determinação em se firmar como escritor era constante - segundo Lilia, Lima fazia questão de se apresentar como tal, ainda que trabalhasse como amanuense (ou seja, um copiador de documentos) no Ministério da Guerra, do qual era funcionário público. Ele, porém, parecia desprezar a função pois, como observou Lilia em sua pesquisa, preferia ocupar o tempo fazendo anotações sobre sua obra no verso da documentação. Uma espécie de desabafo de geração. "É possível notar como ele usava seu tempo livre para escrever, e que não tinha qualquer apreço pela profissão. Por isso mesmo, era à literatura que se dedicava. Tanto que em seu diário confessou: "A literatura, ou me mata ou me salva"."

Basta observar, por exemplo, um trecho das anotações que deixou no verso do manuscrito de Policarpo Quaresma: "Era bom saber se a alegria que trouxe à cidade a lei da abolição, foi geral pelo país. Havia de ser, porque já tinha entrado na convivência de todos a sua injustiça originária. Quando eu fui para o colégio, um colégio público, à rua do Rezende, a alegria entre a criançada era grande. Nós não sabíamos o alcance da lei, mas a alegria ambiente nos tinha tomado. A professora, D. Tereza Pimentel do Amaral, uma senhora muito inteligente, creio que nos explicou a significação da coisa; mas com aquele feitio mental de crianças, só uma coisa me ficou: livre! livre! Julgava que podíamos fazer tudo que quiséssemos; que dali em diante não havia mais limitação aos progressistas da nossa fantasia. Mas como estamos ainda longe disso! Como ainda nos enleiamos nas teias dos preceitos, das regras e das leis!"

Lilia não acredita, portanto, que seja coincidência o fato de que, nas costas de seu romance mais importante - e evidentemente autobiográfico - ele desenvolva tal tipo de raciocínio e mostre como esse era um momento de desencanto: nostálgico. "Aí estava, como ele mesmo dizia, "a República que não foi"."

Em dois artigos que serão divulgados em publicações especializadas, a pesquisadora detalha a passagem do escritor pelo Hospício Nacional de Alienados, iniciada em 1914. A partir de análise dos prontuários arquivados na biblioteca do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, Lilia observa que, apesar de escritor de certa fama, reconhecido como voz crítica e atuante, Barreto é registrado como um alienado sujeito ao delírio do álcool. "Tudo ao contrário do que era seu grande sonho: o de projetar-se como uma persona literária e um testemunho desses novos tempos."


15 de maio de 2011

Numas Recomenda: Evento

DIA INTERNACIONAL DAS HISTÓRIAS DE VIDA – 16 DE MAIO
Histórias de vida: sensibilidades e reflexões na contemporaneidade
O NEHO no Dia Internacional das Histórias de Vida

Tendo em vista a proximidade do Dia Internacional das Histórias de Vida, o Núcleo de Estudos em História Oral (NEHO-USP) oferece em parceria com o Laboratório de Estudos da Intolerância (LEI-USP) um encontro que tem como objetivo trazer à tona os debates recentes sobre a utilização das histórias de vida em diversos âmbitos, sejam eles acadêmicos ou não.

PROGRAMAÇÃO

Palestra de Abertura
Histórias de vida em perspectiva: diferentes abordagens, usos e interpretações
Suzana Lopes Salgado Ribeiro (NEHO-USP)

Mesa-redonda
Experiências e projeções: utilização das histórias de vida na produção do conhecimento

Alice Beatriz Gordo Lang (CERU-USP)
Andrea Paula dos Santos (UFABC-SP)
Fabíola Holanda (CeHFi-UNIFESP)
Mara Selaibe (Depto. de Psicanálise/Instituto Sedes Sapientiae/LEI-USP)

Atividade de Encerramento
Construção narrativa da vida: arte e reflexão
Leitura dramática de histórias de vida + Comentários
Ator convidado: Newton Tavares Jr (Trupe Drao)

Local: Casa de Cultura Japonesa
Horário: a partir das 13h30

Numas Recomenda - Artigo

Crer, o que significa?

Em sua coluna de maio, o antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte aborda um dos temas que mais geram polêmica, tanto no meio acadêmico quanto fora dele: a religião. A recente construção do ateísmo militante é um de seus focos.


Um dos tópicos mais favoráveis à emergência de desentendimentos entre cientistas sociais e colegas de outras áreas é o da religião ou crença. Embora haja muitos cientistas que não se considerem ateus ou agnósticos, a imensa maioria tende a considerar o empreendimento científico em si diametralmente oposto a qualquer coisa que cheire a místico ou religioso, inquietando-se enormemente com ameaças de intrusão da superstição na seara da razão.

Quase todos ignoram que possa existir algum tipo de análise ou interpretação dos fenômenos religiosos – e que a antropologia dedique-se intensamente a essa tarefa. Na medida em que nos dispomos a conhecer o sentido da vida humana, nada nos interpela mais que o conhecimento das ubíquas, permanentes e intensas experiências e crenças religiosas.

Um dos primeiros pontos a esclarecer é o próprio foco do problema. Embora se considere em nossa cultura que exista uma área da vida social que se pode reconhecer facilmente como “religiosa” (templos, divindades, espíritos, rituais, crenças, orações, devoção etc.), essa não é a realidade na maior parte das culturas. E, na verdade, não é sequer inteiramente na nossa.

Considera-se como “religiosa” a dimensão de cada sistema simbólico que se ocupa das ordens mais abrangentes de significado

Do ponto de vista mais abstrato possível, considera-se como “religiosa” a dimensão de cada sistema simbólico que se ocupa das ordens mais abrangentes de significado, sejam elas cósmicas, morais ou cognitivas. Assim, na cultura chinesa clássica, o confucionismo desempenhava, a nossos olhos, um papel religioso – embora nem sequer exista uma palavra chinesa que traduza sem esforço as categorias herdadas do latim religio.

Ocorreu-me tratar de tão espinhosa questão ao ler a tese recente de Flávio Gordon intitulada ‘A cidade dos Brights: religião, política e ciência no movimento neoateísta’, defendida no Museu Nacional.

[...]

artigo completo:

http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/sentidos-do-mundo/crer-o-que-significa

4 de maio de 2011

Numas Recomenda site da Fundação Carlos Chagas

Resultados da seleção Concurso de Dotações para Formação Pré-acadêmica: equidade na pós-graduação.

27.04.2011

Entre fevereiro e março de 2011, a Fundação Carlos Chagas, em parceria com a Fundação Ford, abriu inscrições para universidades públicas e privadas, que já dispunham de experiências de ação afirmativa na graduação, para concorrer ao Concurso de Dotações para Formação Pré-acadêmica: equidade na pós-graduação.

Seleção e Resultado do Concurso:

A Comissão de Seleção foi integrada pelas seguintes pessoas: Ana Toni (representando a Fundação Ford); Antonio Carlos de Souza Lima (Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro); Fúlvia Rosemberg (representando a Fundação Carlos Chagas); Ida Lewkowicz (Universidade Estadual de São Paulo/UNESP, Franca); Zélia Amador de Deus (Universidade Federal do Pará)

Universidades cujas propostas foram selecionadas:

Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT / Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul – UFMS(Consórcio); Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS / Universidade Católica Dom Bosco – UCDB (Consórcio); Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG / Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)(Consórcio); Universidade de Brasília; Universidade Estadual de Ponta Grossa; Universidade Federal da Bahia; Universidade Federal de Pernambuco; Universidade Federal de Roraima; Universidade Federal de Santa Maria; Universidade Federal de São Carlos; Universidade Federal de Sergipe; Universidade Federal do Paraná; Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Para mais informações sobre o concurso: http://www.fcc.org.br/institucional/wp-content/uploads/2011/04/Concurso-de-Dota%C3%A7%C3%B5es.pdf

3 de maio de 2011

Numas recomenda: Evento

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

O Magnífico Reitor, Professor Ricardo Vieiralves, a Sub-Reitora de Extensão e Cultura, Professora Regina Henriques e a Coodernadora do LIDIS, Professora Anna Uziel, convidam para a cerimônia de lançamento do Programa de Extensão “Laboratório Integrado em Diversidade Sexual, Políticas e Direitos – LIDIS”, no próximo dia 9 de maio de 2011, às 18h, no auditório 11 – 1º andar do campus Maracanã.

Programação

18h Exibição de vídeos “Escola sem homofobia”
18h30 Mesa de abertura
19h Mesa Diversidade sexual e universidade: Direitos e Políticas,
por Sergio Carrara (IMS) e Marco Duarte (FSS)

Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ
Rua São Francisco Xavier, 524,
1º andar, auditório 11, Bloco F
Maracanã – Rio de Janeiro

Indicação - Lilia Schwarcz

Profª. Lilia Schwarcz é indicada para a cátedra "Global Professor" na Princeton University.