Crer, o que significa?
Em sua coluna de maio, o antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte aborda um dos temas que mais geram polêmica, tanto no meio acadêmico quanto fora dele: a religião. A recente construção do ateísmo militante é um de seus focos.
Em sua coluna de maio, o antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte aborda um dos temas que mais geram polêmica, tanto no meio acadêmico quanto fora dele: a religião. A recente construção do ateísmo militante é um de seus focos.
Um dos tópicos mais favoráveis à emergência de desentendimentos entre cientistas sociais e colegas de outras áreas é o da religião ou crença. Embora haja muitos cientistas que não se considerem ateus ou agnósticos, a imensa maioria tende a considerar o empreendimento científico em si diametralmente oposto a qualquer coisa que cheire a místico ou religioso, inquietando-se enormemente com ameaças de intrusão da superstição na seara da razão.
Quase todos ignoram que possa existir algum tipo de análise ou interpretação dos fenômenos religiosos – e que a antropologia dedique-se intensamente a essa tarefa. Na medida em que nos dispomos a conhecer o sentido da vida humana, nada nos interpela mais que o conhecimento das ubíquas, permanentes e intensas experiências e crenças religiosas.
Um dos primeiros pontos a esclarecer é o próprio foco do problema. Embora se considere em nossa cultura que exista uma área da vida social que se pode reconhecer facilmente como “religiosa” (templos, divindades, espíritos, rituais, crenças, orações, devoção etc.), essa não é a realidade na maior parte das culturas. E, na verdade, não é sequer inteiramente na nossa.
Do ponto de vista mais abstrato possível, considera-se como “religiosa” a dimensão de cada sistema simbólico que se ocupa das ordens mais abrangentes de significado, sejam elas cósmicas, morais ou cognitivas. Assim, na cultura chinesa clássica, o confucionismo desempenhava, a nossos olhos, um papel religioso – embora nem sequer exista uma palavra chinesa que traduza sem esforço as categorias herdadas do latim religio.
Ocorreu-me tratar de tão espinhosa questão ao ler a tese recente de Flávio Gordon intitulada ‘A cidade dos Brights: religião, política e ciência no movimento neoateísta’, defendida no Museu Nacional.
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http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/sentidos-do-mundo/crer-o-que-significa
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