Segue abaixo o trecho inicial da entrevista publicada.
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ÉRICA PEÇANHA DO NASCIMENTO
“É imprescindível que a produção dos escritores da periferia seja
reconhecida como literatura”
Érica Peçanha do Nascimento é antropóloga e tem se dedicado a pesquisar a produção cultural das periferias. Doutoranda da USP e professora de uma rede de cursinho pré-vestibular para alunos de baixa renda, é autora de Vozes marginais na literatura (2009), que toma como mote a atribuição do adjetivo “marginal”, por parte de alguns escritores da periferia, para caracterizar a si ou aos seus produtos literários no limiar do século XXI.
Publicado na Coleção Tramas Urbanas, da Editora Aeroplano, o livro é uma versão ampliada e revista de uma pesquisa de mestrado que tem o mérito de ser o primeiro registro acadêmico da importante cena literária que se estabeleceu nas periferias paulistanas. No centro da análise encontram-se as trajetórias, obras e atuações culturais de Ferréz, Sérgio Vaz e Sacolinha (Ademiro Alves), autores que participaram das edições especiais Caros Amigos/Literatura Marginal: a cultura da periferia.
Na entrevista abaixo, concedida por email à doutoranda em Letras Ingrid Hapke (Universidade de Hamburgo, Alemanha), a antropóloga fala dessa literatura situada à margem do cânone, sintetizando seu histórico de emergência e analisando suas relações com o meio literário e o mercado editorial.
De onde vem seu interesse específico pela temática da “literatura marginal”? Quais foram os objetivos de sua pesquisa?
Desde a época da minha graduação em Sociologia e Política tenho acompanhando como pesquisadora os movimentos culturais da periferia paulistana. Por conta disso, em 2003 estive em um evento sobre hip hop que também discutia a literatura periférica. Foi assim que descobri as edições especiais Caros Amigos/ Literatura Marginal: a cultura da periferia e passei a me dedicar ao tema. Durante meu mestrado, realizado entre 2004 e 2006 no Departamento de Antropologia da USP, tomei como objeto de estudo os escritores que publicaram nas três edições especiais Caros Amigos/ Literatura Marginal e procurei compreender a que se refere a apropriação recente da expressão “literatura marginal” por escritores da periferia, assim como investigar de que maneira essa apropriação se traduz em produtos literários e atuações culturais específicas.
Creio que estudar a produção cultural da periferia é uma maneira de satisfazer um desejo pessoal de abordar, academicamente, assuntos que também têm relevância política.
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